O Ebitda é geração de caixa?

Volnei F. de Castilhos

Professor convidado da FGV, consultor, palestrante e conselheiro de empresas

Ao longo da minha experiência profissional como Professor da FGV, Consultor e Conselheiro de Empresas, se lê muitos discursos bonitos e calorosos falando sobre o Ebitda e falando apenas dos benefícios, alguns de forma equivocada até falam que ele é Geração de Caixa. Não é geração de Caixa porque é elaborado pela Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) que segue regime de competência e não de Caixa. Também não mostra o nível de endividamento das empresas.

Passamos pela Reengenharia, pelo EVA, que continuamos calculando e com certeza muito melhor para se analisar. O professor Oscar Malvessi nos mostra a excelente metodologia do VEC – Valor Econômico Criado muito melhor que o EBITDA.

Sabemos que precisamos de indicadores para medir o desempenho da gestão, mas também entendemos que nunca é quantidade e sim a qualidade dos indicadores, que modernamente começam a ser chamados de Key Performance Indicators -KPIs, são os Indicadores-Chave de Desempenho observados por um negócio.

Para se analisar uma empresa ou entidades, o ponto chave parte de uma Contabilidade bem elaborada não apensas para fins tributários e sim para fins Gerenciais, e se possível deve ser Auditada.

Ao ler várias publicações em revistas e jornais de referência no Brasil e constar nas manchetes que a Empresa X, teve um crescimento de 80 % no faturamento e o EBITDA cresceu 30 %, porém o que mercado interessa e considera importante saber é:

– A empresa Criou Valor para o Acionista?

– Qual o crescimento real descontando a inflação da Receita Bruta, Receita Operacional Líquida, Despesas Operacionais, Margem Operacional (Ebit) e Lucro Líquido?

– Qual a produtividade da fábrica? Existe controle sobre desperdícios, horas extras e retrabalhos?

– Sobrou mais dinheiro em Caixa? Qual a qualidade dos Ativos? Pois o Caixa é o Rei !!!

– Como foi a variação da necessidade de capital de giro para atingir esse faturamento?

– Houve aumento de endividamento bancário para financiar esse crescimento?

– O Ciclo de Caixa: O prazo médio de recebimento das vendas aumentou para financiar o crescimento do faturamento? A empresa tinha capital de giro para financiar ou usou recursos de bancos? Os estoques estão girando mais rápido? Qual o prazo médio com fornecedores?

– O Fluxo de Caixa precisa tem projeções de no mínimo 12 meses? O acompanhamento é diário?

– As despesas financeiras cresceram quanto para alavancar o crescimento do faturamento?

– A empresa realmente tem controle sobre os seus custos?

– Como se comportou o Custo para fabricar, revender ou prestar serviços? Qual a variação das despesas operacionais com o crescimento de 80 %?

– Como está a concentração de faturamento? Normalmente os maiores clientes em função do poder de negociação, não são os mais rentáveis pois dão volume mas não dão lucratividade.

Também observei muitos casos em que a área comercial tinha mais poder de decisão do que a área financeira e essas empresas quebraram todas. É necessário o equilíbrio do Financeiro-Comercial e o norte de toda a empresa de Sucesso vir através de uma boa Estratégia de Mercado, sempre voltada para Inovação, Satisfação de seus clientes e Criação de Valor.

Quando é evidenciado para o mercado uma imagem só das VENDAS mas não se analisa o comportamento do CAIXA, ENDIVIDAMENTO e RENTABILIDADE dessas empresas ou como aconteceu recentemente no Brasil onde foi alterado critérios contábeis no Balanço e DRE para demostrar um Lucro maquiado.

O que fazer? Investirmos em Conselhos realmente profissionalizados, estratégias curto e de longo prazo dentro do planejamento estratégico, inovação e investir no maior ATIVO que é as pessoas, pois sem as pessoas estarem motivadas, tudo fica só no PAPEL.

Fonte: Jornal do Comércio