Para economista da XP, gastos públicos lembram governo Dilma e próximo movimento do BC será de alta nos juros
Para o especialista, país caminha para uma agenda em que “quem paga muito vai continuar pagando muito e quem não paga vai começar a pagar”
O próximo movimento nos juros do Banco Central deve ser uma alta, afirmou o economista-chefe da XP, Fernando Genta, durante congresso de investimentos da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).
“Olhando para o que está acontecendo [incertezas no exterior e desequilíbrio fiscal no Brasil] é mais provável que o próximo movimento do BC seja de alta do que de corte [nos juros]”, avaliou.
Segundo o especialista, o gasto público “voltou a crescer como crescia antes [durante o governo Dilma] e nesse primeiro ano de arcabouço o gasto vai crescer IPCA mais 6%”.
O economista explica que a inflação segue um caminho positivo, “mas quando olhamos para as expectativas estão desancoradas, para inflação deste ano o mercado está precificando um nível de 4,4% e para ao ano que vem com 5,5%, mas tem um pouco de prêmio”.
Genta enxerga a economia brasileira tendo retornado a um equilíbrio fiscal mais frágil visto durante os anos do governo da presidente Dilma Rouseff. “Independentemente do próximo movimento [do BC] ser de alta ou de baixa, a gente voltou a um equilíbrio anterior na economia brasileira [com forte crescimento do gasto público]”, ponderou.
Na visão do especialista, a política monetária, provavelmente, terá de “compensar” esse aumento das despesas. “Não acredito que as nvas regras [fiscais] serão revogadas, acho difícil mudar a regra do salário mínimo [de crescimento real] e desvincular os benefícios então o monetário terá de ser restritivo para compensar isso.”
Nesse cenário, o país precisa de um juro mais elevado para evitar uma elevação da inflação. “Se o juro americano vai permanecer mais alto ou a taxa do título público brasileiro sobe ou teremos o câmbio depreciando e vamos ver o BC tendo de subir os juros”, comentou.
“Quando a gente pensa no governo Dilma onde o juro americano era zero [e o BC teve de elevar os juros], mesmo que a gente faça um dever de casa ainda vamos ter juro mais alto”, disse.
Genta também acredita na manutenção do esforço do governo em aumentar a arrecadação. De acordo com o economista, “uma agenda do governo será constantemente tentar aumentar impostos sobre as empresas”.
Para o especialista, “o problema é que estamos caminhando para uma agenda em que quem paga muito vai continuar pagando muito e quem não paga vai começar a pagar”.
No cenário base, a XP enxerga a Selic em 10,50% em 2024 e a possibilidade de se discutir quedas no ano que vem, “dependendo de quem assumir a presidência do BC”.
A eventual retomada de cortes, porém, só pode ocorrer se o Federal Reserve (Fed, o BC americano) começar o ciclo de redução de juros. A Selic média em 2025 deve se manter em dois dígitos. Conforme as projeções da casa, o ano pode fechar com um juro básico médio de 10%.
Genta também afirmou ver o crescimento do PIB mantendo um ritmo positivo em 2024 e em 2025, mesmo com o juro mais elevado. A única incerteza sobre o avanço da economia recai sobre o impacto do evento catastrófico no Rio Grande do Sul. “Se não fosse o Rio Grande do Sul, as revisões de crescimento estavam indo para 3% no ano, mas agora o impacto é uma incógnita”, ponderou.
A presença do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, na reunião sobre o decreto da meta contínua de inflação, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem, reforça a sinalização de que ele é o principal nome para ser o novo presidente do BC, avaliou Genta, durante evento da Abrapp.
Sobre o comportamento do novo BC, a partir do ano que vem, o especialista afirmou ver uma manutenção do perfil técnico do órgão, se for confirmada a indicação de Galípolo. “As indicações de diretores do [ministro da Fazenda Fernando] Haddad foram bastante técnicas e acredito que as indicações vão continuar sendo técnicas”, avaliou.
Na visão de Genta, “acho que vai ser um BC um pouco mais tomador de risco, mas ainda do ponto de vista estritamente técnico”. Para o economista-chefe da XP, “a autoridade não muda substancialmente”.
Fonte: Valor Econômico