Ser uma pessoa introvertida pode prejudicar minha carreira?
A colunista Mariana Clark orienta leitora que tem dificuldades em fazer networking e se relacionar com colegas de trabalho
“Sou uma profissional competente, mas bastante tímida. Alguns líderes que tive no passado já me disseram que gostam do meu trabalho mas que eu posso perder oportunidades por não saber socializar e fazer networking. No meu emprego atual, vejo pessoas que entraram depois de mim se relacionando já com certa intimidade, algo que em três anos de empresa não consegui. Também tenho receio de ser considerada uma pessoa antipática por causa do meu jeito. Ser uma pessoa introvertida pode me prejudicar na carreira?” Gestora de fundos, 40 anos
É claro que sim, da mesma forma que uma pessoa extremamente extrovertida, sem filtros, também pode influenciar negativamente a própria carreira. Nada em excesso é bom. Por isso, à medida que você absorve e toma consciência sobre o seu receio, é capaz de abrir uma investigação mais profunda sobre o que de fato essa situação te desperta e como endereçá-la internamente, na sua introspecção.
No seu relato, você já destaca que não avançou tanto quanto poderia ou gostaria em três anos de empresa, ao contrário de colegas seus. Para evitar mais frustrações, você precisa entender que a introversão não é desculpa para perder oportunidades e deixar de ser relacionar. Grandes líderes nacionais e mundiais eram introvertidos, incluindo Ayrton Senna, Bill Gates, Steven Spielberg e Beyoncé.
Para ajudar nessa jornada, recomendo a leitura de “O Poder dos Quietos”, livro da Susan Cain, que ficou muito popular após participar de uma conferência TED sobre o mesmo tema. Ela esclarece, por exemplo, que timidez e introversão, embora sejam tidas como sinônimos, são conceitos diferentes: o primeiro está ligado ao medo da desaprovação social e da humilhação, enquanto o segundo está mais relacionado a uma “preferência por ambientes que não sejam estimulantes demais.” Há vantagens e desvantagens nos dois – aliás, como em tudo na vida.
Logo, ao contrário do que sugere o senso comum, isso não quer dizer que você não é capaz de lidar com pessoas e fazer networking – pelo contrário, Cain nos conta que uma pessoa introvertida, por exemplo, pode ser mais empática e garantir resultados melhores. Os tímidos desenvolvem, desde a infância, amizades mais profundas e leais. Tanto uma, quanto a outra, têm a escuta ativa, uma habilidade fundamental, como ponto forte.
Como introvertida, você pode não gostar de grandes demonstrações ou apresentações públicas, incluindo palestras e festas, mas pode se sentir à vontade para estreitar relacionamento com os seus colegas e líderes durante um café, em um ambiente com menos barulho, com tempo controlado, onde você se sinta mais segura. Inevitavelmente, você terá que se expor mais, mas com autoconhecimento, prática e tempo, é possível controlar a ansiedade, bem como outros sintomas, relacionados a isso.
Além disso, pesquisas demonstram que os introvertidos usam melhor os recursos digitais para se comunicar e nutrir relações. Cautela, pensamento e criatividade são outros pontos fortes, justamente pela facilidade de se manter sozinho e isolado.
Enfim, entenda os feedbacks e frustrações como um chamado à mudança – não para se tornar uma extrovertida, mas para se conhecer melhor, aperfeiçoar pontos fortes e desenvolver outros de uma forma mais acolhedora com você.
Mariana Clark é psicóloga, especialista em saúde mental, perdas e luto no contexto organizacional e escolar.
Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.