Blog

BC eleva a taxa Selic a 14,75%, maior nível em quase 20 anos

O Comitê de Política Monetária aumentou taxa básica de juros em 0,5 ponto e não indicou os próximos passos na condução dos juros

Sem surpreender o mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros, que chegou a 14,75%. Com a Selic no maior nível desde agosto de 2006, o comitê citou a elevada incerteza e o estágio avançado do ciclo de aperto como motivos para não oferecer uma indicação explícita sobre os próximos passos. Ao abrir mão do “forward guidance” (prescrição futura), o Copom destacou, assim, que o momento exige “cautela adicional” e “flexibilidade” na análise dos dados e seus efeitos sobre a inflação. 

Desde dezembro, o Copom tem comunicado ao mercado suas pretensões para as decisões subsequentes, o que reduziu a volatilidade quanto às apostas para os passos seguintes na condução da política monetária. Agora, o colegiado deixa aberta a porta para ajustes adicionais na Selic, mas também aponta para fatores que indicam que o ciclo pode ser interrompido. “O comitê se manterá vigilante e a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante”, diz o colegiado. 

Nas projeções de inflação do próprio Copom, porém, ainda há uma distância em relação ao centro da meta. Para este ano, o comitê reduziu sua estimativa para o IPCA de 5,1% para 4,8% — acima, portanto, do teto da meta —; e, em relação ao quarto trimestre de 2026, que passou a ser o horizonte relevante da política monetária, houve uma queda na projeção de inflação de 3,7% para 3,6%, dentro da banda, mas bem acima do centro da meta (3%). 

Houve mudança, ainda, no balanço de riscos, que deixou de exibir uma assimetria de alta para a inflação e passou a indicar que os riscos, de forma geral, estão mais elevados que o usual no momento. Entre os riscos de alta, não houve novidade e seguiram contempladas a desancoragem das expectativas de inflação; a resiliência da inflação de serviços; e uma conjunção de políticas que tenha impacto inflacionário maior que o esperado. Por outro lado, entre os riscos de baixa, uma eventual desaceleração da economia doméstica e a chance de uma desaceleração global mais pronunciada continuaram sobre a mesa e ganharam a companhia de uma redução nos preços das commodities. 

O cenário internacional, em particular, ganhou destaque na avaliação do Copom, diante das incertezas derivadas da política comercial dos Estados Unidos, da indefinição sobre a magnitude da desaceleração econômica e do efeito no cenário inflacionário entre os países. “Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com fortes reflexos nas condições financeiras globais”, o que, na visão do Copom, exige cautela por parte dos países emergentes. 

A percepção de que a dúvida no colegiado é grande e de que o exterior é o principal responsável é capturada em índices que monitoram o nível da incerteza do Copom. Elaborado pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA 4Intelligence, o índice de incerteza dos comunicados das decisões do colegiado alcançou o maior nível desde agosto de 2022. E, na abertura por temas, ao observar a contribuição de cada um no comportamento do indicador, a economia internacional foi o de maior impacto na decisão desta quarta — e a incerteza externa atingiu o nível mais alto desde o início da série acompanhada pela casa, em 2016. “Ultrapassou, até mesmo, a guerra da Ucrânia e a pandemia”, observa Imaizumi. 

Copom eleva Selic a 14,75%, maior nível desde agosto de 2006 — Foto: Valor
Copom eleva Selic a 14,75%, maior nível desde agosto de 2006 — Foto: Valor

Até mesmo o Federal Reserve (Fed), que também divulgou sua decisão de política monetária, reconheceu a incerteza elevada e enfatizou os riscos derivados das tarifas comerciais implementadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. 

A indicação de que a incerteza está elevada e, como consequência, a retirada do “forward guidance” da comunicação já eram pontos amplamente esperados por participantes do mercado. Desde as reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, entre os dias 22 e 25 de abril, o mercado passou a trabalhar com a possibilidade de uma direção menos “hawkish” (favorável a uma política mais apertada) pelo Copom, após declarações de diretores da autarquia

O presidente do BC, Gabriel Galípolo, tentou conter o ímpeto mais “dovish” (suave) da interpretação do mercado na semana seguinte, o que sugeriu, para alguns participantes do mercado, alguma gradação na avaliação dos membros do Copom sobre os passos futuros da política monetária. Sem uma indicação mais clara sobre a reunião de junho e além, o mercado de juros pode começar a negociar se a autoridade pode entregar um ajuste no próximo encontro se o ciclo de aperto chegou ao fim. 

Daniela Lima, da Kinea: aos olhos de hoje, parece mais provável que o BC não elevará os juros em junho — Foto: Rogerio Vieira/Valor
Daniela Lima, da Kinea: aos olhos de hoje, parece mais provável que o BC não elevará os juros em junho — Foto: Rogerio Vieira/Valor

“Aos olhos de hoje, nos parece ligeiramente mais provável o BC não elevar os juros na próxima”, diz a economista Daniela Lima, da Kinea Investimentos, embora tenha reconhecido que a porta está aberta para um ajuste adicional de 0,25 ponto nos juros em junho. Para ela, a indicação do Copom de que o cenário prescreve uma política “em patamar contracionista”, e não “mais contracionista”, além do apontamento do estágio avançado do ciclo, “sinaliza uma predisposição maior a encerrar o ciclo”. 

Roberto Secemski, do Barclays: sem guidance, juro 'alto por mais tempo' entra em cena — Foto: Silvia Zamboni/Valor
Roberto Secemski, do Barclays: sem guidance, juro ‘alto por mais tempo’ entra em cena — Foto: Silvia Zamboni/Valor

“Sem um ‘guidance’, o juro ‘alto por mais tempo’ entra em cena”, avalia o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, ao apontar para as mudanças na comunicação do colegiado. O banco britânico ainda espera um ajuste de 0,25 ponto na Selic em junho e, portanto, uma taxa de 15% no fim do ciclo. Como argumentos, Secemski nota que o comitê evitou classificar o balanço de riscos como neutro e se referiu explicitamente à próxima reunião, “o que sugeriria que o jogo ainda não acabou”. 

“O fato de a própria projeção de inflação do Copom permanecer bastante distante da meta de 3% mesmo com uma Selic de 15% no fim do ciclo, como indica o Focus, sugere que nossa premissa de uma alta de 0,25 ponto em junho permanece válida, mesmo que esteja longe de ser garantida”, enfatiza Secemski. “De qualquer forma, a introdução da expressão ‘política significativamente contracionista por um período prolongado’ deve dissuadir o entusiasmo sobre potenciais cortes no futuro próximo.”

Fonte: Valor Economico

Estamos em uma ótima localização.

Escritório de contabilidade, desde 1988 no mercado, atendendo pequenas, médias e grandes empresas em Novo Hamburgo, no Vale dos Sinos e na Grande Porto Alegre.​

Newsletter

Assine nossa newsletter e receba mensalmente conteúdos exclusivos com as principais notícias do mundo contábil, fiscal, jurídico e empresarial.

Newsletter